terça-feira, 5 de junho de 2007

Lisboa Antiga de Bicicleta

No passado Domingo dia 3 de Junho a Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta organizou pela 15ª vez o passeio "Lisboa Antiga de Bicicleta".
Isto foi o que aconteceu. Cada um terá vivido isso à sua maneira. A minha foi esta:

9h00 - chego ao Terreiro do Paço e levanto a minha inscrição, com direito a uma t-shirt, sardinhada no fim e um vale para uma revisão gratuita na oficina do El Corte Inglés.

9h20, no café mais próximo do Terreiro do Paço que estava aberto, "Campesina", numa perpendicular à Rua Augusta - vários ciclistas acorrem aqui para tomar café e comer algo. Até que chega um grupo de BTTistas vestidos a rigor, com equipamento completo (licras, óculos, luvas e sapatos especiais, capacetes...). Um deles pede "uma sandes de leitão e um copo de vinho". Um outro pede sandes de leitão e um sumo de laranja, mas à pergunta "quer sumo natural ou Trinaranjus" responde, "hum...olhe, afinal é uma mini preta". A estes dois BTTistas juntava-se um terceiro que dizia já ter feito o aquecimento: 18km de sua casa até ao Terreiro do Paço, passando pelo Parque das Nações.

9h30 - à hora marcada para o início do passeio havia uma fila de "não sócios" ainda em crescimento que esperava para levantar a inscrição.
Por entre a espera um BTTista comentou "este passeio parece os do Bicicletando, nunca mais começa", enquanto outro sugeriu partir primeiro, "ir andando".

10h00, mais coisa menos coisa - início do passeio propriamente dito.
Para começar, subimos por Alfama. Houve logo queixas de alguns participantes que não aguentavam subir algumas ruas. Isto porque eu estava entre os últimos do passeio, na frente do pelotão seguiam aqueles a quem, por mais que custasse subir, interessava chegar primeiro.
O facto de ser a subir e de serem 700 bicicletas a passar por ruas estreitíssimas de Alfama fez com que esta primeira "etapa" do passeio fosse muito lenta, quando não parada.


Por esta rua terão passado 700 bicicletas...

Lisboa Antiga...de bicicleta?!
Tanto quanto consegui saber, o percurso deste passeio é o mesmo desde há 15 anos. Não posso negar o meu espanto. Há escolhas que não se compreendem ou então ultrapassam-me. Por exemplo esta...

A subida para o Príncipe Real fez-se pela Rua do Elevador da Glória, cheia de desconfortáveis carris, com uma alternativa muito mais cómoda e menos inclinada mesmo ali ao lado - a subida pelo Chiado, Rua Garrett, que é a opção para quem normalmente passa nessa zona de bicicleta. Como eu.

Uma questão tem que ser levantada: qual é o objectivo deste passeio e qual o público alvo. A FPCUB diz-nos: "Divulgar, promover e dar a conhecer Lisboa através da bicicleta"; "promover a utilização da bicicleta como forma de mobilidade sustentável, não poluente, ecológica e saudável, quer como meio de lazer e forma de conhecer “o outro lado” de uma cidade, quer para as pequenas deslocações pendulares: casa - trabalho ou casa – escola".

Podia referir-me a outros objectivos mas fico-me por estes dois. Parece-me que ao querer "dar a conhecer Lisboa através da bicicleta" com este percurso, estamos a contribuir mais para o reforço do mito das 7 colinas e para a ideia da impossibilidade de andar de bicicleta em Lisboa do que a "promover a utilização da bicicleta como forma de mobilidade sustentável".

Com o percurso do passeio "Lisboa Antiga de Bicicleta" está-se a promover sobretudo uma ideia (do meu ponto de vista, claro): andar de bicicleta em Lisboa é um desporto radical. A par do evento "Red Bull Downtown Lisbon", Alfama assume-se como uma espécie de Rali Dakar das bicicletas: é pitoresco, impraticável para o uso quotidiano e envolve sempre muita gente e uma mega organização para os eventos que lá passam.

O percurso podia ser escolhido em função da Lisboa que é possível dar a conhecer de bicicleta a toda a gente e não só aos radicais e BTTistas. Os mesmos locais de referência na cidade por onde passou o cortejo podem ser acedidos por outras ruas, menos inclinadas e mais acessíveis as todos. Basta perguntar a qualquer ciclista urbano que por lá passe habitualmente.
Não participei em edições anteriores deste passeio, mas como utilizador quotidiano que sou, e não radical (excepto as transgressões que faço ao Código da Estrada que me dão muita adrenalina), a manter-se assim o percurso não voltarei a participar. Calculo que ao longo dos últimos 15 anos tenha havido outros a pensar como eu.
O percurso está feito a pensar no regozijo dos BTTistas por isso é normal que eles acorram em massa, ultra equipados da cabeça aos pés. Não os censuro, só não é a minha opção. E não me parece que deva ser a opção de um passeio que se propõe promover o que acima foi dito.

Depois veio o candidato...
...aqui de COSTAs, com o aparato mediático diante dele e da minha objectiva. Entretanto a sua candidatura já apresentou o programa onde é dado grande destaque à bicicleta. Houve logo vozes críticas a ridicularizarem esta opção, como a do Professor Marcelo Rebelo de Sousa, e outras que reagiram de imediato a essa ridicularização. O tema está cada vez mais instalado, já (quase) toda a gente fala no assunto, ora bem ora mal, e as bicicletas "invadiram", diria mesmo que tomaram de assalto, os programas de algumas candidaturas. A ver no que dá...

Para terminar, a sardinhada...

Em primeiro plano vemos na foto a equipa dos "brancos, vermelhos e pretos", ao fundo destaca-se a equipa dos "laranjas". Os "amarelos", equipa muito vistosa, já estariam servidos a esta hora.
Ainda assim houve várias queixas quanto ao (mau) serviço. Eu concordo com elas, mas a minha solução seria acabar com a sardinhada de vez. "Mal organizada", "pessoas a passar à frente na fila", "muito tempo à espera"...e deixo a melhor para o fim, aquela que me fez esboçar um sorriso apesar da fome e da falta de paciência que o olhar antropológico não conseguiu evitar: "fico mais tempo à espera pra comer do que a andar de bicicleta". Ninguém disse que ia ser fácil...

Link para o álbum completo de fotos do passeio

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