Mais um "que não tem nada de agradável para dizer ao mundo".
hipótese: nunca deixámos de ser primitivos (por deferência à ética, outro que não o primitivo não podemos nós ser). com isto quero também dizer que não há uma escala que vá de primitivo a civilizado e que o quadro de análise para um serve necessariamente para todos.
assim, e de maneira pré-científica, vamos falar de civilização em idioma primitivo. a sociedade primitiva somos nós.
Uma cidade como um todo harmonioso, onde se possa coexistir harmoniosamente, requer que se percebam, a tempo, as chamadas diferenças úteis. (MJNP)
A cidade democrática é uma cidade de conflito latente e constante, uma cidade de choques, contrastes, manifestações, contra-manifestações, interesses opostos, etc...
A cidade fascista é uma cidade harmoniosa, com tudo arrumado num lugar certo, criando "diferenças úteis" (ao poder).
Não estou a chamar fascista à senhora MJNP. Pode tratar-se apenas de ingenuidade pois acredito que tenha as melhores intenções para Lisboa. Porém não acredito que ela própria tenha perguntado aos comerciantes chineses o que pensam de uma chinatown.
Esta será a primeira frase do livro que vou escrever, um dia se me apetecer. Ela transporta tudo o que sempre me interessou descobrir nos contos: o que fica para lá do momento em que, depois de raptada a bela pelo monstro, da entrada do bonitão em cena, do confronto do bem e do mal representado nas figuras do bonitão e do monstro respectivamente, da vitória do bem (mesmo que sanguinária) sobre o mal (ainda que justo) e do momento em que a bela e o bonitão se reencontram, se abraçam, se beijam e rodeados por uma pitoresca paisagem contemplam o pôr do sol, ou a multidão em êxtase?... No fundo, será que viveram mesmo felizes para sempre?
Uma história começada com "...e viveram felizes para sempre" não é sinónimo de história para crianças, da mesma forma que as acabadas assim tão-pouco o são. Todos vibramos e ansiamos pelo final previsível do "...e viveram felizes para sempre". Estas histórias não existem para preservar a inocência das crianças, antes para alimentar um sonho adulto.
Duvido que nunca ninguém se tenha lembrado de começar uma história por "...e viveram felizes para sempre", certo é que eu não conheço nenhuma. Talvez porque vendam menos e eu gosto mais das capas coloridas dos best-sellers e das fitas cintilantes "39ª edição", "mais de 10.000.000 exemplares vendidos", "termina com '...e viveram felizes para sempre'"...
Ninguém quer saber o que está para lá do "...e viveram felizes para sempre" a não ser que esteja a viver uma relação complicada e procure ajuda. Ajuda para voltar ao "...e viveram felizes para sempre", ponto final perfeito de uma relação.
Fazia zapping desalmadamente até parar na Sic Notícias. O acidental porém não foi isso, antes a descoberta deste grupo de "Música Portuguesa Planetária", Xaile. Ouvi apenas uma música, a última do concerto que foi transmitido naquele canal. Cativou-me de imediato e retive o nome.
Hoje procurei na net, encontrei, ouvi e voltei a sentir aquele impulso imediato de sair de casa a correr para ir comprar o CD. Senti só, não lhe dei continuidade, ou adiei-o por um dia, não porque me tenha esquecido onde fica a Fnac mas porque tinha mais que fazer, literalmente e não apenas por recusa à sensação de "idolatria adolescente", essa coisa que já lá vai.
Devaneios à parte, esta banda é mesmo boa. Causa-me arrepios. Não falo apenas da música, aliás, todo o projecto está bem pensado e fará um sucesso dentro e fora de portas, não duvido. Começa por apostar numa estratégia que nunca falha: 3 mulheres jovens e bonitas cantam. Mas estas também dançam, ou vá lá...mexem-se graciosamente, outra estratégia para o sucesso. E mais, também tocam! Instrumentos vários e pouco mainstream. Ou seja, reúne a estratégia das irmãs The Coors com um toque de Spice Girls. Mas os instrumentos que tocam e a indumentária acrescentam-lhe outros elementos: um exotismo cigano e um folclore português de matriz europeia.
Ou seja, o que se obtém desta mistura é um produto pop-folk que tanto agradará aos assíduos do festival Sudoeste como aos do festival Andanças. E quem sabe até aos "alternativos", como os pinta a comunicação social, do Paredes de Coura. O mais provável no entanto é vê-los para o ano no Festival Músicas do Mundo em Sines.
Deixo aqui os vídeos que estão disponíveis no YouTube. Reparem na encenação, na performance, nos planos da câmara...e no que mais vos chamar a atenção. Este projecto está cheio de pormenores, musicais e não só, o que lhe dá muita substância, densidade e riqueza. Agradará a gregos, troianos, pessoal do Sudoeste, do Andanças...
Não fiz disto um objectivo, mas aconteceu. Durante o mês de Agosto não bloguei. Sinto-me bem com/por isso. "Com" porque apesar de não forçado houve algum impulso interior nesse sentido. "Por" porque se foi impulso dei-lhe azo e porque me parece sensato e saudável desligar de quando em vez de toda a espécie de actividade que levamos a cabo. Hoje desligo-me das férias.
Ainda assim...passaram apenas 2h38m desde o mês de Agosto...qual português a regressar de férias.